Campanhas do Ministrio da Sade buscam elevar cobertura vacinal no pas 6ot3l
Publicado em 20/04/2019
Editoria: Sade
O Programa Nacional de Imunizaes (PNI) referncia mundial, j que oferece, gratuitamente, todas as vacinas recomendadas pela Organizao Mundial da Sade (OMS). Mesmo com essa oferta, a cobertura vacinal vem caindo no pas. Estudo feito por diferentes faculdades de Medicina do estado de So Paulo e apresentado no 15 Congresso Paulista de Pediatria, em maro, teve por objetivo calcular a taxa de recusa dos pais em vacinar os filhos e avaliar os fatores determinantes.
A autora principal do estudo, a mdica Regina Clia Succi, membro do Departamento de Infectologia Peditrica da Sociedade de Pediatria de So Paulo (SPSP), informou que o estudo foi baseado em um questionrio respondido pelos pais (on line ou pessoalmente) sobre vacinas e calendrio vacinal, alm dos temores e dvidas. Responderam pesquisa 579 pais, sendo 92,9% do sexo feminino.
Nos resultados iniciais, o estudo mostrou que 95% dos pais acreditam que seguir o esquema recomendado pelo mdico o melhor para os filhos, j 63,6% entendem que tm direito de question-lo. Embora 94,3% dos pais acreditem que a imunizao protege contra doenas potencialmente graves, 14% deles no confiam na segurana das vacinas e 12,1% acham que os filhos recebem mais vacinas do que o necessrio.
"Sade pblica"
A aluna de doutorado Ana considera importante tomar as vacinas previstas no calendrio, principalmente as que protegem de doenas mais graves. Estatisticamente, mais perigoso e potencialmente fatal pegar alguma das doenas do que o risco de reao s vacinas, ento acho vlido e dei todas do calendrio. Outro motivo pelo qual escolhi dar vacinas que, por vezes, existem crianas com condies mdicas que no permitem tomar vacinas e, muito menos, pegar doenas. Proteger crianas saudveis tambm evitar exposio dessas crianas a algumas doenas, disse a me de Alice, de 3 anos.
No entanto, ela decidiu no dar uma das vacinas filha. Particularmente, no dou vacinas para gripe, por exemplo, pois a minha filha tem um sistema imunolgico incrvel e raramente fica doente. Tomar vacina no s uma deciso individual uma questo coletiva, de sade pblica.
Opinio semelhante tem a mdica Regina Succi, autora do estudo. Deixar de vacinar apenas porque algum disse que pode ser perigoso um risco muito grande eu no estou pondo s em risco o meu filho, mas tambm estou pondo em risco as pessoas com as quais ele vai entrar em contato. A mdica explica que, se uma criana sadia no se vacina, e depois tem sarampo, por exemplo, pode transmitir para algum que no pode tomar todas as vacinas, como os imunodeprimidos.
o que ns chamamos de imunidade coletiva, vacina-se o mximo de pessoas possvel porque h algumas na populao que no podem se vacinar porque tm doenas que contraindicam a vacinao.
Segurana das vacinas
De acordo com o estudo, 38,8% dos entrevistados tm muita preocupao com a seguranla das vacinas e 26% responderam ter pouca. Oitenta e nove por cento dos pais dizem que sua principal fonte de informaes o mdico, seguido pela internet (32,1%) e por parentes/amigos (23,7%). Quase 90% confiam muito no mdico dos filhos. Destes, 12,7% afirmam que no conseguem discutir adequadamente vacinas com o profissional. Ainda segundo o estudo, a preocupao dos pais com a possibilidade de eventos adversos graves foi muita (45,3%) e um pouco (36,6%).
Foi o que aconteceu com a professora Viviane Sena, me de Dante, de 3 anos. Ela diz ser a favor das vacinas, mas contra a forma como so oferecidas. s vezes, o beb precisa tomar quatro ou cinco vacinas por vez. As reaes so inmeras e piores do que muitas doenas decorrentes de viroses. Deixei de dar [ao filho] a segunda dose do rotavrus [vacina oral rotavrus humano (VORH)], que seria aos 4 meses, porque, na primeira dose, aos 2 meses, eu literalmente pensei que ele no fosse sobreviver, de tanta reao adversa, contou a professora. Pesquisei e vi que o rotavrus est em constante mutao e que a vacina no atualizada. Ento optei por no dar essa vacina por entender que ela traria mais danos do que benefcios.
Para Viviane, no h informao adequada sobre a vacinao. Nenhum profissional nem mdicos, nem enfermeiros soube me explicar ao certo sobre a vacina [contra o] rotavrus, ningum respondeu aos meus questionamentos, e o tom era sempre impositivo [para dar a vacina]. E de tanta cobrana por faltar a vacina no carto dele, &39;aceitei&39; dar aos 7 meses essa vacina que deveria ter sido aos 4 e que eu no teria dado, no fosse pela imposio dos profissionais da rea. Falta informao e acolhimento, desabafou.
Para reverter esse quadro de insegurana, a autora do estudo disse que os pediatras devem aconselhar os pacientes. Como professora universitria, sinto que temos que preparar o aluno de medicina e os mdicos para sentirem segurana na hora de informar os pacientes sobre a necessidade e a segurana das vacinas.
Imunizao ameaada
Segundo o Ministrio da Sade, no h dados sobre a taxa de recusa vacinal no pas. Mas de acordo com o Departamento de Informtica do Sistema nico de Sade do Brasil (Datasus), as oito vacinas obrigatrias at o primeiro ano de vida esto com cobertura abaixo do recomendado pela OMS, que 90% a 95%. A coberrtura vacinal para crianas com at 12 meses de vida, em 2018, variava de 74% a 89%.
"Na nossa avaliao, isso no est relacionado a grupos antivacinas, o que temos visto que essas vacinas da infncia so um fenmeno que o prprio sucesso do Programa Nacional de Imunizaes (PNI). medida que se vacinou a populao infantil erradicaram-se doenas ou ficaram controladas, afirmou a coordenadora do PNI, Carla Domingues.
Ela lembra que na dcada de 1970, o pas registrava 100 mil casos de sarampo e 10 mil de poliomielite por ano. "Essa gerao de pais que foram vacinados na infncia deixou de adoecer, no conviveu com essas doenas. E eles comearam a acreditar que no precisam mais vacinar seus filhos porque essas doenas no existem, criando uma falsa segurana, acrescentou. Se pararmos de vacinar, principalmente as crianas, doenas que ainda existem em outros pases podem voltar a ocorrer no Brasil."
Do incio de 2018 at 8 de janeiro de 2019, o Brasil registrou 10.274 casos confirmados de sarampo. Foram 12 mortes pela doena: quatro em Roraima, seis no Amazonas e duas no Par. Isso ocorreu depois de o Brasil ter recebido, em 2016, da OMS e da Organizao Pan-Americana de Sade (Opas), o certificado de pas livre do sarampo, da rubola e da rubola congnita. Com os novos casos, o pas perder a certificao.
Quando se tem um surto de um ano, significa que o pas tem a endemicidade da doena novamente. A Opas est avaliando e agora teremos que demonstrar para rgo que interrompemos essa cadeia e ficaremos um perodo demonstrando que no temos caso, para o pas ser recertificado, explicou a coordenadora do PNI, que avalia que a falta de vacinao estimulou o surto.
Incentivo vacinao
Para aumentar os indicadores de imunizao, o governo federal lanou, no ltimo dia 11, o Movimento Vacina Brasil, com aes coordenadas pelo Ministrio da Sade.
A Sociedade de Pediatria de So Paulo (SPSP) tambm promove a campanha Abril Azul Confiana nas Vacinas: Eu Cuido, Eu Confio, Eu Vacino, com o objetivo de levar informaes sobre a importncia da vacinao, aumentar a confiana nas vacinas, alm de discutir e mostrar os riscos da recusa vacinal.
Segundo a pediatra Silvia Regina Marques, presidente do Departamento de Infectologia da SPSP, as vacinas representam a melhor interveno em sade em termos de custo-benefcio: evitam 2 a 3 milhes de mortes a cada ano em todo o mundo e aumentam a expectativa de vida. No vacinar as crianas coloca-as em risco de desenvolver doenas potencialmente fatais (sarampo, ttano, difteria, meningite etc) e causadoras de sequelas para o resto da vida, como paralisia (poliomielite), surdez (meningite por H influenzae, caxumba), retardo no desenvolvimento, entre outras, alertou a especialista.
A proposta da campanha que os pediatras em seus locais de trabalho (hospital, ambulatrio, consultrio e universidades) intensifiquem as discusses sobre o calendrio vacinal, situao vacinal da populao e esclarecimentos sobre a recusa vacinal. O mdico pediatra deve se manter atualizado sobre todos os avanos nas vacinas e manter com a famlia dos seus pacientes estreito lao de credibilidade e confiana.
FONTE: Agncia Brasil