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Famlias improvisam acampamentos em rodovias para vigiar suas casas 46h2q

Publicado em 23/05/2024 Editoria: Brasil


Foto Rafa Neddermeyer/Ag

Foto Rafa Neddermeyer/Agncia Brasil

Em Porto Alegre, bairros ao norte esto alagados h mais de 20 dias
Uma cena que se tornou comum em toda a regio metropolitana de Porto Alegre a de pessoas que improvisaram acampamentos em barracas ou nos prprios carros estacionados no acostamento das rodovias. Em geral, so famlias inteiras que tiveram que sair s pressas das prprias casas, em reas alagadas, para buscar refgio em um local prximo por temor de saques.
"Subimos para c no dia 3 de maio e, na primeira noite em que chegamos aqui, o pessoal estava saqueando as casas da vizinhana, roubando fio, botijo de gs, motor de geladeira", conta Silvano Soares Fagundes, 28 anos, catador de material reciclvel e morador da Vila Santo Andr, no Humait, na zona norte da capital gacha, em um o da rodovia BR-116 prximo Arena do Grmio. Foi ali, em uma parte alta, mas a poucos metros de sua casa, ainda alagada, que ele, a esposa, duas filhas e vrios vizinhos montaram um acampamento com lonas, barracas e usando os prprios carros como casas. So cerca de 40 pessoas, que agora formam uma comunidade de desabrigados, que fazem parte das quase 600 mil pessoas fora de casa em todo o estado.
O barulho e movimento de veculos em alta velocidade na pista intenso. Sem renda por no poder trabalhar na reciclagem, Hariana Pereira, 30 anos, o marido e os quatro filhos agora dormem no furgo antes usado para transportar os materiais coletados.
"Aqui tem um banheiro qumico, mas precrio. H muitas pessoas que vm ajudar, mandam remdio, gua, o que est garantindo a sobrevivncia. O governo no manda nada. A gente at estava esperando um pessoal para cadastrar no programa Volta por Cima [do governo estadual], mas no apareceu", reclama. Mais cedo, Hariana tinha ido ver o que sobrou dentro de casa, que chegou a ficar quase encoberta pela inundao, mas no teve coragem de comear a limpar ainda. "Vim hoje para limpar, mas no tem condies, tudo destrudo, nada se salvou. O que a gua no levou, estavam saqueando, ento a gente preferiu ficar aqui", explica.
Sobre voltar para uma rea alagvel com a famlia, Hariana diz que no tem muita alternativa e responsabiliza as autoridades pblicas. "Foi negligncia. Os diques rompidos, no fizeram manuteno. Isso poderia ter sido evitado".
Para Silvano Soares, reerguer o pouco do que tinha no vai ser simples. Inscrito no Cadastro nico de Programas Sociais (Cadnico) do governo federal, ele espera ser um dos 200 mil beneficirios do Auxlio Reconstruo, cujo cadastramento pelas prefeituras comeou nesta semana. "Vai ajudar bastante, se chegar esse dinheiro que esto prometendo, porque no tem como comear do zero".
Esperando secar
Outro motivo que faz as pessoas preferirem ficar na rua a optar por abrigos a separao. "A gente no quis ir para o abrigo. melhor ficar aqui. No abrigo esto separando os pais de crianas", alega Cristina Sodr Linhares, 24 anos, tambm catadora de reciclveis. Do poder pblico, Cristina espera ao menos que enviem equipamentos para tirar todo o entulho espalhado pela enchente dos materiais que estavam em dois galpes de reciclagem localizado0s no bairro.
Em rea prxima dali, beira da pista da BR-116, no bairro Farrapos, o casal Gilson Nunes Rosa e Claudia Rodrigues conta que no ficaram em abrigo porque teriam que se separar em locais diferentes, incluindo o cachorro, companheiro inseparvel. "A gente no queria ficar separado e corria o risco de nunca mais achar meu cachorro", diz Claudia.
"A gente t vivendo aqui de forma meio desumana, em barraca. Enquanto no secar, no temos como fazer nada", diz Gilson, que tambm est parado sem o trabalho de reciclagem.
No mesmo local, a reportagem da Agncia Brasil conversou com Jorge Barcelos dos Santos, que trabalhava como motorista de frete, mas viu seu carro alagar na enchente e no sabe se poder voltar a contar com o veculo. "Dentro de casa, a gua chegou a 1,95 metro. O caminho de frete, que era o ganha-po, foi completamente coberto de gua".
Sua esposa, Maria Elisa Rodrigues, explica a deciso de montar uma barraca quase em frente de casa, sob o viaduto, separados apenas por uma rua ainda alagada e por onde as pessoas circulam em barcos.
Catstrofe desigual
As trajetrias de quem optou por acampar na beira da estrada aps as enchentes se encontram em um ponto comum: a vulnerabilidade socioeconmica. Mapas produzidos pelo Ncleo Porto Alegre do Observatrio das Metrpoles mostram uma demarcao muito clara de desigualdade de renda nas pessoas que foram mais atingidas pela catstrofe. As reas alagadas so, principalmente, as mais pobres. No s as regies de menor renda, mas, na maioria dos casos, as reas mais prximas dos rios que alagaram so as reas mais pobres, afirma Andr Augustin.
Os mapas tambm mostraram impacto proporcionalmente muito maior sobre a populao negra, que representa cerca de 21% da populao do estado. Nesse caso, as reas que mais sofreram com as inundaes apresentam concentrao expressiva de populao negra, geralmente acima da mdia dos municpios. o caso justamente dos bairros Humait, Sarandi e Rubem Berta, em Porto legre, e de Mathias Velho, em Canoas, por exemplo.


FONTE: Agncia Brasil

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